Zona de interesse é sombrio e angustiante como deve ser

Diogo Souza

14 de fevereiro de 2024

O filme do diretor Jonathan Glazer retrata a história da vida cotidiana da família do oficial nazista Rudolf Höss, comandante responsável por administrar Auschwitz, cuja residência familiar fica próxima ao chocante ambiente do campo de concentração. A expectativa de que o filme pudesse retratar de forma mais explícita a rotina, não apenas familiar mas também no campo de concentração em Auschwitz, foi frustrada ao perceber-se que, ao longo do filme, o campo de concentração não seria de fato mostrado.

Diferentemente do que estamos habituados com filmes do gênero, “Zona de Interesse” opta por não focar nas consequências de morar ao lado de um campo de concentração e no que lá acontece, mas sim concentrar-se quase inteiramente nas relações familiares da família Höss. Assim, o foco de Glazer ao longo do filme é na experiência diária dos membros da família.

Os filhos e suas vivências de infância e adolescência, frequentando a escola, ajudando em tarefas domésticas; a mãe e seu apego à ideia de um lar construído com esforço, demonstrando orgulho a todo momento; e o pai com suas responsabilidades familiares e profissionais. Essas experiências, embora atraentes e interessantes, não conseguem capturar completamente nossa atenção, pois desembocam em uma rotina comum e natural.

Mas é bom?

A Naturalidade

A atuação é um dos pontos altos do filme. É impressionante observar tamanha frieza e naturalidade em uma família, especialmente nos principais membros, diante do que acontece ao lado de sua casa. Em nenhum momento, os tiros ou gritos, ouvidos com intensidade e clareza, desviam a atenção e o foco dos familiares, com exceção da sogra de Rudolf, que, ao visitar, não vê com naturalidade essa situação. Uma pena que essa parte não seja tão bem explorada como deveria ter sido para trazer aquele peso ainda maior à trama!!

O Barulho do Silêncio

O que realmente falta é a mostra da violência e da rotina dentro do campo de concentração. Sentimos apenas os muros e os constantes barulhos, que servem de pano de fundo para a rotina diária através dos sons de tiros, gritos e lamentações. O que provavelmente foi a decisão do diretor para causar tanta angústia e desespero nos espectadores –  que anseiam por visualizar aquilo que se ouve, e não conseguem entender como aquela família vive assim. Com um peso cada vez maior a ser carregado em meio a tentativa de criar um silêncio ensurdecedor.

Satisfação Fria

No final, Zona de Interesse acaba por satisfazer um pouco a visualização natural esperada das atrocidades de Auschwitz, somos transportados a um museu limpo e higienizado. E ao ver imagens e objetos da época, como roupas e calçados aos milhares, ficamos chocados. Em um momento futurista, Höss vislumbra a conclusão de seu trabalho e pode, assim, ir para casa.

Talvez, se o filme escolhesse ter demonstrado esse horror, como sugere o filósofo francês, o caminho de Höss seria perturbador, pois seu grande inimigo seria sua própria mente e memória, como Glazer vislumbra em alguns momentos.

Nota Final: 6.0

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