Crítica | Matrix (1999)

Em 1999, o mundo estava prestando atenção na tecnologia por causa chamado do bug do milênio. Essa problemática da virada para o ano 2000 poderia ter sido o maior apagão computacional da história. É aí que Matrix começa a brilhar quando apresentou à todos um planeta dominado por uma inteligência artificial que “destruiu” a humanidade e ainda a escravizou, todo esse clima diante dessa tensão pré-existente criou uma janela perfeita para o lançamento do filme com uma sensação libertária digital. É interessante notar como o colapso generalizado de qualquer sistema seduz as pessoas, e sabendo disso, o filme evidencia a moral humana, e como uma civilização pode se autodestruir.

Matrix fala sobre tudo e consegue se aprofundar bem mais do que o esperado em alguns temas como mitologia, filosofia, religião, teorias da conspiração e o pensamento político. A história do conflito entre homens e máquinas é bem mais antiga do que se pensa, e por isso no filme, as diretoras traçam caprichosamente a jornada do Neo, cujo nome é um anagrama para “one”, é definido como o “único”, o “escolhido”, o messias esperado pelo grupo de resistência.

Thomas Anderson é um hacker habilidoso que trabalha numa grande corporação de software dos anos 90, é possível perceber que ele não concorda com o sistema e é desconfiado de tudo e de todos. Claramente o rapaz sabe que algo está errado em sua rotina, e gasta horas e horas buscando respostas – inclusive procurando o mito “Morpheus”, que ele ainda não sabe o que é ou quem. Não por acaso ele recebe uma mensagem aparentemente do além no computador:

“Matrix tem você. Siga o coelho branco”.

É instigante notar o paralelo com Alice no País das Maravilhas concretizado pelo convite sem volta da Trinity.

Depois de perceber tudo que está acontecendo e escolher a pílula da liberdade, Neo descobre que não está em 1999 como pensava, mas em 2199, e agora os humanos que restaram não nascem como antes, mas são criados dentro de úteros mecânicos em grandes campos de produção de pessoas sem ter consciência disso – o nome é quase uma referência direta para os campos de concentração nazistas na Alemanha.

Antes de começar a produzir o roteiro, as irmãs Wachowski pesquisaram bastante em HQ’s, obras literárias, cinema, mangás, animes e inclusive inspirações bíblicas. Várias vezes Matrix mostra que vivemos a falsa percepção de que estamos no controle de nossas vidas quando na verdade seguimos caminhos pré-determinados por outros, com pouca liberdade de escolha. Você sabe quem determina a sua vida?

O filme traz paralelos à vida real o tempo inteiro e alguns mais intensos do que outros, como quando o Neo finalmente desperta, remetendo ao próprio público do cinema, sendo expressado nas palavras de Morpheus, personagem que o nome se origina no deus grego dos sonhos e que, no longa, personifica parte essencial da resistência às máquinas:

Você já teve um sonho sobre o qual teve certeza que era real? E se você não conseguisse acordar? Como saberia a diferença entre o sonho e a vida real?”.

Nesse sentido “The One” aceita o seu papel de salvador do mundo e assume a responsabilidade por isso, uma contraproposta direta à escolha de Alice, que sonha para afastar-se da realidade e entrar no País das Maravilhas.

É impressionante como Matrix foi revolucionário tanto nas questões debatidas durante a trama, como nos efeitos especiais e de câmera, uma verdadeira revolução cinematográfica que influenciou várias obras posteriores. Exemplo disso é o genial filme A Origem (2010) do Christopher Nolan – que trata exatamente da frase mais famosa do Morpheus. The Matrix de 1999 possui um grande caráter filosófico e deixa perguntas durante e depois da sessão:

“O corpo não vive sem a mente?”

“A Matrix é real?”

É uma história bem pensada e bem escrita capaz de vencer o tempo. Ainda sendo tão atual quanto era em 1999, se tornando um dos grandes clássicos da história do cinema mundial.

Nota Final: 10.0

Um jovem programador é atormentado por estranhos pesadelos nos quais sempre está conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro. À medida que o sonho se repete, ele começa a levantar dúvidas sobre a realidade. E quando encontra os misteriosos Morpheus e Trinity, ele descobre que é vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas e cria a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia.

Matrix está disponível no streaming da Netflix.

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