O Brasil pode ganhar um importante papel de destaque no mundo dos quadrinhos. Isso porque a empresária e quadrinista Carol Zara, brasileira residente no Canadá, é uma das candidatas a ocupar um cargo de Vice-Presidente na DC Comics. Ela, que é conhecida por ser destemida e franca, já disse que ter estudado Diplomacia abriu seus olhos para outras perspectivas, e que gostaria de criar uma indústria de quadrinhos menos dividida. Quais outros motivos fariam de Carol Zara uma ótima aposta para modernizar e humanizar a empresa, que vem fazendo um grande esforço para sobreviver há alguns anos?
Carol Zara com fã na Fan Expo Canada (Foto: Reprodução/Facebook)
Indústria das HQ’s
Os fãs de quadrinhos já devem ter notado que a indústria de HQs está em crise. Em 2017, um painel na San Diego Comic-Con causou burburinho quando os chefes da DC declararam a intenção de “parar o colapso da indústria de quadrinhos”. A citação, tida como equivocada pela empresa, criou a sensação de que as coisas não vão muito bem no mundo das HQs: em um momento em que as adaptações dos quadrinhos são maiores do que nunca, o interesse do público pelos quadrinhos reais parece estar diminuindo. O susto foi tão grande que rumores sobre o fim da DC começaram a surgir. Jim Lee, Diretor de Criação da DC, já esclareceu que a editora não abandonará o mercado de HQs, mas passará por algumas adaptações, como a redução do número de publicações mensais.
Somada a isso, há a introdução de mais diversidade nas histórias, e a diminuição da hiperssexualização de personagens femininas, já que as editoras tentam mudar o foco das histórias para tentar alcançar um público maior. No entanto, há leitores fiéis que acreditam que as tendências de diversidade podem ser prejudiciais para a qualidade das histórias por serem decisões temporárias geradas apenas para agradar novos leitores. Carol acredita que é importante haver uma ponderação sobre o tema, já que todos os lados devem receber atenção. “Eu cursei Ciências Políticas, queria ser diplomata. Então, naturalmente, acredito muito em ouvir aqueles com quem eu não concordo. Quero entender seu ponto de vista e descobrir maneiras de me conectar com todos, porque não importa no que as pessoas acreditam, como se parecem, de onde vêm, sempre há ao menos duas coisas em que pessoas diferentes podem concordar. Então ao falar sobre inclusão, não devemos considerar apenas aqueles que pensam como nós. Diversidade de pensamento é tão importante quanto qualquer outro tipo de diversidade”, comentou a quadrinista em uma postagem feita em seu perfil do Facebook em julho de 2020.
Se confirmada, Carol Zara deve ser a terceira mulher e primeira brasileira a ocupar um dos maiores cargos numa editora de HQs internacional. No ano passado, a DC Comics anunciou Marie Javins como nova editora-chefe, sendo a segunda mulher a ocupar o cargo de liderança na editora.
Alien Toilet Monsters
A primeira HQ de Carol, totalmente financiada por ela, vendeu mais rapidamente do que títulos já renomados, de acordo com lojistas americanos. Logo em sua primeira edição, a série de terror e ficção científica ultrapassou o número de vendas, em algumas lojas, de quadrinhos da própria DC. “A HQ vendeu melhor do que New Super-Man, tudo por conta do boca-a-boca e de tão bonita que ficou na prateleira,” relatou o dono da Yancy Street Comics, uma comic shop na Flórida.
Em uma participação no podcast Mundo do Nerd, em maio deste ano, a quadrinista disse acreditar que um bom relacionamento com os pequenos lojistas é fundamental, pois o trabalho deles é extremamente importante para as HQs e deveria ser mais valorizado.
E não foi só nas lojas que o trabalho de Carol Zara foi bem recebido. A HQ dela também foi bem aceita entre os críticos literários. O Flickering Myth, site com foco em quadrinhos, televisão, filmes e videogames, considerou o Alien Toilet Monsters® “uma história alucinante e não convencional”. Já a revista britânica de ficção científica Starburst classificou a HQ como “uma das mais únicas experiências de leitura que você vai encontrar”.
E-sports
Carol com o protótipo do Google Lens (Foto: Reprodução/Facebook)
Além de conhecer bem o universo dos quadrinhos, Carol foi a primeira influencer de e-sports a assinar um contrato com a Virgin Gaming, de Richard Branson, numa época em que influenciadores, e-sports e streaming eram novidades ainda não exploradas pelas grandes empresas.
Em 2013, Carol já estava testando um protótipo do Google Glass, que ficou disponível ao público um ano depois. Em 2014, Carol foi a única mulher contratada para trabalhar no escritório canadense onde a Ethereum estava sendo desenvolvida, antes mesmo da plataforma de criptomoeda ser lançada em 2015. Ela foi uma das colegas de Vitalik Buterin, quando o Russo-Canadense, que recentemente entrou na lista de 100 influenciadores da Time, ainda não era o conselheiro de Elon Musk. Também foi a única mulher a participar de um clube de inteligência artificial, que tinha mais de 20 membros homens.