Crítica | Rua do Medo 1994 – Parte 1 (2021)

Depois de alguns anos, e a pandemia no meio, os filmes da Trilogia da Rua do Medo (Fear Street, 2021 – no título original) finalmente foram lançados. O primeiro deles é Rua do Medo 1994, o filme já começa com aquele clima nostálgico dos anos 90, coisa que aparentemente a Netflix sabe fazer bem – assim como já mostrou em Stranger Things anteriormente.

Porém o grupo de adolescentes desse primeiro longa é realmente irritante assim ou é só a força do hábito? Como o roteiro lida com a morte de certos personagens, se é que realmente lida? O filme funciona dentro do que propõe?

O roteiro de Leigh Janiak e Phil Graziadei vai construindo adolescentes perseguidos por assassinos mascarados e sem personalidade que sempre no fim se unem para um bem maior. Mas aí é onde entra a grande questão dessa parte 1, será que esses vilões precisam ser identificados ou desenvolvidos? Normalmente sim, porém com a proposta dos três filmes unidos não vai se estranhando tanto o fato deles estarem apenas atrás do sangue – e quando é dito atrás do sangue, é literalmente isso. Em certas partes é possível ver pequenas menções a quem foram essas pessoas e todo o mistério que cerca Shadyside, raramente usando flashbacks que poderiam trazer um pouco de cansaço para o espectador. Diferenciando-se no momento que é entendido o porquê desses “possuídos” estarem perseguindo certas pessoas.

E como é de praxe na Netflix, tem que ter um colégio e adolescentes rebeldes. A partir daí Rua do Medo 1994 começa com os típicos dramas de filmes teen, que precisam lidar com o fato que talvez a cidade que eles vivem está amaldiçoada e eles também por tabela, ou pelo menos é o que a jovem Deena (Kiana Madeira) acha. O filme começa no mais recente desastre da cidade, o assassinato da caixa de uma loja do shopping chamada Heather (Maya Hawke) pelas mãos do colega Ryan Torres (David W. Thompson). Bem parecido na verdade como acontece em algumas temporadas de American Horror Story onde o início já vai “entregando” tudo que parecia ser a trama do resto dos episódios e você vai pensando, okay – para onde essa história vai agora?

Esse começo pesado mostra que o longa provavelmente não vai poupar ninguém, porque no momento que cria-se certa intimidade com a personagem inicial, ela é aniquilada brutalmente justo quando pensávamos que ela ia escapar e dar início à trama de descobrir quem é o assassino. Mas não!!

Um ponto que deixa muitas dúvidas sobre a veracidade das mortes é quanto à reação dos indivíduos com elas, por vezes se mostram sempre bastante assustados – que seria o normal. Porém depois desse susto inicial eles parecem não reagir muito, é possível perceber isso quando o novo namorado agressivo e descontrolado da Sam (Olivia Welch), Peter (Jeremy Ford) é esfaqueado na frente das duas e momentos depois elas estão flertando como se nada tivesse acontecido, nem por uma vez ela menciona estar triste com o acontecimento do namorado. Talvez ela ainda estivesse em choque e sem reação, mas assim que começamos a pensar isso – as duas já reatam o antigo relacionamento e começam a se beijar enquanto Serial Killers estão vindo matá-las???

Talvez e somente muito talvez essas atitudes dos adolescentes possam ser explicadas pela proximidade da morte, porque existem estudos que dizem que o quanto mais perto da morte é normal que as pessoas sintam vontade de se reproduzir, como uma forma desesperada de preservar seus genes antes de cessar sua própria existência!

E nesse cenário que todo mundo pode morrer de uma forma ou de outra a qualquer momento o roteiro fica de certa forma mais livre para brincar assim como achar mais cabível. Por isso ele leva todo o primeiro terço construindo as personalidades e a mitologia do local, se estendendo demais as vezes em coisas que não precisaria – tudo bem que é agradável mergulharmos na história da lenda da bruxa chamada Sarah Fier que colocou uma maldição no local, mas não mais do que o necessário já que isso continuaria sendo contando na segunda parte da trilogia. Talvez isso pudesse fazer os personagens ficarem mais superficiais do quanto gostaríamos de conhece-los, porém o roteiro não falha justo quando começamos a cansar e então aposta na explicação das matanças na cidade. Além disso ele deixa claro que não é só o espectador que precisa de explicação, mas os personagens devem entender o que está acontecendo para conseguir a solução antes que seja tarde demais, se é que existe solução..

O longa inclui várias referências à cultura pop como “A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead – título original),” o icônico golpe de machado de “O Iluminado (The Shining – título original)”, alusões a “Tubarão”, referências a “Poltergeist” e “Stranger Things” – referências essas que vão se enquadrando perfeitamente na trama mais do que suas influências ou o algoritmo necessário para.

Rua do Medo 1994, serve para mostrar a grande ameaça que a cidade vive há mais de 300 anos em destaque e realmente provar que é perigosa – quando mata personagens “importantes” sem pena. E é no momento que o filme assume o gênero slasher misturado com toda a mitologia que a mágica acontece, até porque filmes desse estilo não costumam ter explicação nenhuma para nada e muito menos desenvolver os personagens que ninguém estaria se importando muito. E é dessa forma que o primeiro capítulo consegue criar relações com o espectador fazendo ele sofrer a cada baixa que vai acontecendo sem descanso até a cena final. Por fim, o longa não é nenhuma reinvenção da roda no gênero, mas sim uma inovação bem-vinda e bem encaixada, porque enquanto o filme vai fechando os acontecimentos a trama vai sendo discretamente planejada para os outros dois capítulos. E apesar de funcionar muito bem como a introdução da trilogia, ele pode não ser tão legal assim isoladamente – isso se e somente se o espectador estiver esperando uma grande diferenciação do gênero, que na realidade não acontece. Porém ainda consegue inovar dentro do que se propõe, e entrega de uma forma clichê e não clichê ao mesmo tempo a história de mistério da amaldiçoada Shadyside, por isso é uma ótima diversão para os amantes do terror que mal podem esperar pela segunda parte que aí sim chega para quebrar o ritmo e mostrar para o que essa franquia veio.

Nota Final: 7.5

Trailer e Sinopse

A trilogia tem início em Shadyside, no ano de 1994. Em 1994, um grupo de adolescentes descobre que os eventos terríveis que assombram sua cidade há gerações podem estar conectados. O pior: eles podem ser os próximos alvos. Baseada na série de livros de terror de R.L. Stine, a trilogia conta a história sinistra da cidade de Shadyside.

A trilogia Rua do Medo está disponível no streaming da Netflix.

  • Rua do Medo: 1994 – Parte 1 (2 de julho)
  • Rua do Medo: 1978 – Parte 2 (9 de julho)
  • Rua do Medo: 1666 – Parte 3 (16 de julho)
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