Imagine assistir a um filme sem saber da existência do livro do qual foi originado, sem saber do que se trata e assistir de forma despretenciosa a uma grande obra de arte. E você só se da conta disso depois de alguns momentos. E quando o filme acaba o primeiro pensamento que vem a cabeça é: preciso saber tudo sobre essa história. O que eu acabei de ver? Será que eu entendi alguma coisa?
Pois é! Isso acabou de acontecer comigo ao assistir ao filme Estou Pensando em Acabar com Tudo (I’m Thinking of Ending Things). Protagonizado por Toni Colette, Jesse Plemons, Jessie Buckley e David Thewlis.
O filme começa com a personagem de Jessie Buckley indo visitar os pais de seu namorado (Jake), interpretado por Jesse Plemons. Esse começo causa um pouco de ansiedade, para não dizer mais coisas. Um diálogo longo com muitas metáforas. A namorada fica literalmente pensando a todo momento: Estou pensando em acabar com tudo. Chega um momento o qual Jake até parece ter ouvido a namorada falar isso em voz alta, mas ela diz que não falou nada.
Ao chegar na casa dos pais do garoto, ela se depara com um festival de loucuras. Fica muito claro que Jake não é muito próximo dos pais, fica mais claro que ele é ainda menos achegado ao pai. Todo o encontro é cercado por uma atmosfera de mal estar, muitas vezes parece que você está preso num lugar pequeno e é claustrofóbico. Eu me senti assim, literalmente. Tanto mal estar que até pensei em parar de assistir ao filme muitas vezes. Mas o mais interessante é que eu me identifiquei um pouco com o personagem e isso me fez pensar mais na vida e em aproveitar mais, aceitar o que eu não posso mudar e melhorar o que for possível e NUNCA deixar uma oportunidade passar.
Alguns cortes no filme nos levam para linhas temporais diferentes, montando um certo tipo de quebra cabeça. Em todos esses cortes, em certo momento o filme persiste em mostrar a namorada repetindo que quer voltar pra casa. Em algum momento isso fica estranho, pois os personagens dos pais de Jake aparecem envelhecidos, ou rejuvenescidos nunca em ordem natural. Mas como uma forma de expressar que ela não saiu de lá faz um tempo. O que nos faz questionar se ela é real, inclusive quando em uma cena Jake vai mostrar um retrato seu pequeno e ela diz: mas essa sou eu!
Exatamente, ela vê o retrato dele e diz que não é ele, mas sim ela quando criança. Outra coisa que nos faz questionar a existência dela é ver que os quadros os quais foram pintados, supostamente, por ela na verdade estão assinados por Jake em seu porão. Ela pode ser o reflexo de todo potencial que ele teve quando jovem e ficou internalizado em uma segunda personalidade.
Em alguns cortes do filme podemos observar um zelador, e esse zelador está com uma camisa idêntica a várias camisas que a jovem garota encontrou no porão da casa de Jake. O que pode ter acontecido para Jake terminar como zelador da escola?
Esse filme é um verdadeiro quebra cabeças do tipo que não via em tempos. Assista e tente chegar a uma interpretação.
Conselho: ler o livro antes de assistir, pois vai preencher diversas lacunas que estão escondidas em metáforas.
Trailer abaixo: