Dexter(2006-2013) Review

Diogo Souza

19 de julho de 2020

Produzido pela Showtime e distribuído no Brasil pelo canal de TV paga FX Brasil, esse foi um dos programas de televisão mais comentados da década passada, mas que hoje foi praticamente esquecido pelo público. O que aconteceu com o seriado? O que deu errado?

A série foi baseada num livro chamado Darkly Dreaming Dexter, de 2004, escrito por Jeff Lindsay. E que nos anos finais se desviou completamente da obra original, isso arruinou mesmo o programa de TV?

Para quem ainda não conhece Dexter, a história se passa em Miami e o personagem principal é um analista forense de sangue, assassino de criminosos que por algum motivo escapam da justiça. Quando Dexter era pequeno, ele sofreu um grande trauma ao ver sua mãe sendo morta e esquartejada na sua frente, depois disso ele foi adotado pelo policial Harry que notou algo errado na criança e procurou ajuda profissional de Evelyn Vogel. Os dois chegaram a conclusão que ele precisaria de ajuda para se desenvolver, pois havia traços de psicopatia naquele garoto e para não machucar pessoas inocentes eles criaram o “código de Harry”, basicamente consiste em 3 regras:

1 – Não seja pego
2 – Certificar-se que a vítima é assassina
3 – Nunca matar uma pessoa inocente

Com isso em mente, foram desenvolvidos 96 episódios durante 8 temporadas, mas por que a série foi tão esquecida com o tempo?

Depois da exibição do último episódio em 22 de setembro de 2013, houve uma rejeição praticamente unânime dos fãs. Após o auge da quarta temporada, a série começou a entrar em becos sem saídas no roteiro como se não soubesse o que se fazer com aqueles personagens, mas isso realmente foi prejudicial? Porque apesar dos roteiristas perderem um pouco a mão durante os anos que se seguiram, a produção e atuação do elenco se tornou essencial para carregar o resto do show, que, apesar de ter um desfecho decepcionante para o coração dos fãs, foi justo com os personagens, mais como uma forma condizente de acordo com o comportamento e ações de cada um deles. Por exemplo, muitos criticaram o fato do Dexter hesitar em algumas situações e falar sobre amor, ódio e por muitas vezes tomar decisões precipitadas em consequência das emoções, coisa que um verdadeiro psicopata nunca faria. Mas nunca foi confirmado que ele realmente era um, e na última temporada pode-se perceber claramente quando algumas vezes seguidas a Dra. Evelyn Vogel estranha o comportamento dele, porque apesar de frio, ele demonstrava um nível de compaixão incongruente com a perversão.

Análise Psicológica do Dexter:
Aqui vai o trecho do artigo – Sofrimento psíquico na perversão: o caso dexter por Fábio Roberto Rodrigues Belo e Larissa Bacelete:

Podemos ver na relação entre Harry e Dexter um tipo de sedução designada por Roussillon (1999) de traumatismo primário: trata-se do trauma que conduz o sujeito a se relacionar com o meio externo a partir de uma transferência baseada na reversão, ou seja, imputando ao outro o que ele próprio não suporta experimentar, e que não pôde ser integrado ao seu psiquismo. O autor descreve os três tempos de formação deste trauma: no primeiro, o psiquismo incipiente da criança é atravessado por grande quantidade de excitação, a qual não consegue manejar com os recursos que possui nesse momento. No segundo tempo, inundado pela angústia e o desprazer decorrentes da impossibilidade de metabolizar estes conteúdos, o sujeito espera ser acolhido e apaziguado pelo objeto. Mas, se novamente ele se frustra neste processo, o ódio produzido leva ao terceiro tempo, instaurando o trauma primário propriamente dito. Este estado se caracteriza pela clivagem no ego, pela desestruturação do psiquismo, fazendo com que o sujeito se retire da experiência, afastando-se psiquicamente dela. É o que testemunhamos na história de nosso personagem, que sofrera um grave traumatismo no início de sua infância, cujas consequências tiveram bastante influência em sua constituição psíquica, mas não contou com acolhimento e alívio suficientes dessa agonia, sendo frequentemente convocado a revivê-la por meio da violência cometida com outros objetos. Portanto, seguindo a ótica de Roussillon (1999), a compulsão de Dexter a tirar a vida de outras pessoas deve ser interpretada como uma defesa desse tipo de patologia narcísica.

Podemos perceber que a personalidade do Dexter foi embutida nele no momento da tragédia em sua vida, e não somente na dele como na do irmão biológico o Brian Moser que se tornou um serial killer muito frio por não ter um “guia” como foi Harry para Dexter.

Com isso, podemos entender que mesmo o final acontecendo de uma forma desagradável para os fãs, ele é um final cru e real que não pretendia realmente agradar a ninguém, e que apesar de sempre existir aquela brecha de esperança. No fundo já era previsto o que esse tipo de vida traria para ele ou para quem estava perto dele.

Confira o trailer oficial da série:

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