Crítica | A Pequena Sereia (2023)

Agnes Maciel

22 de maio de 2023

Mas uma sereia não tem lágrimas e, portanto, ela sofre muito mais.

Hans Christian Andersen

E, com essa citação direta do livro A Pequena Sereia de Andersen, o filme começa apresentando a imponência do mar governado por Tritão, pai de Ariel. Inicialmente o filme é essencialmente igual a animação de 1989 mostrando as sequencias iniciais e apresentação dos personagens clássicos, além do reino do mar. Temos uma imersão nostálgica e cheia da magia que conhecemos da disney. Minha opinião pessoal, como fã dos clássicos do estúdio desde pequeno, é de que esse é o melhor live action deles até o momento. Os anteriores estão, para mim, em um nível mediano senão baixo mesmo.

A nova versão surpreende com um elenco praticamente perfeito. Halle Bailey consegue se transformar totalmente em Ariel e também emprestar sua voz para Vanessa (a versão humana de Úrsula) com uma entonação maligna. Chega a ser impressionante como a mesma consegue cantar de forma tão doce e em um determinado momento da trama entoar notas tão macabras através de outra atriz na música Vanessa’s Trick na qual ela basicamente vocaliza. Ela foi, realmente, a melhor escolha para o papel de Ariel. Agora eu não consigo imaginar outra atriz trazendo a sereia à vida. Outro ponto alto no elenco é a Melissa MacCarthy como Úrsula. Quando olhamos para a tela não vemos mais a Melissa, mas sim a bruxa do mar cheia de malícia e sempre dissimulada. A cena musical de Poor Unfortunate Souls está incrível nas mãos da Melissa, inclusive.

Chegamos a Javier Bardem como Tritão. E, por falar no rei dos mares, filho de Poseidon, temos conhecimento de que o mesmo tem uma irmã. Essa parente não é ninguém menos que Úrsula. A personagem, embora não exista na mitologia grega, foi criada para ser uma das filhas de Poseidon na animação original de 1989, porém a ideia foi descartada à época. Depois foi confirmado que ela seria realmente irmã de Tritão. Voltando para tritão, temos ótimos momentos do ator como o personagem, mas a onipotência dele poderia ter sido mais utilizada. E é por esse motivo e pelo fato do filme não ter aprofundado sobre a questão da briga entre os irmãos no passado que eu dei nove (9.0) para o filme. E, sobre uma questão do filme de 1989, muitas pessoas se perguntam o motivo de Tritão conseguir transformar Ariel em humana no final do desenho. Explicação: ele é filho de Poseidon. Ele tem um tridente mágico herdado de seu pai, o Deus Grego Poseidon.

No desenho original não temos muito sobre a história de Eric, interpretado no novo longa por Jonah Houer-King. Agora, podemos conhecer um pouco mais sobre o personagem e sua personalidade de forma mais aprofundada. O ator tem uma ótima química em cena com a Halle Bailey. Agora ele também tem um número musical (Wild Uncharted Waters) que está muito bem executado. 

Ainda sobre os números musicais, temos For the First Time, música interpretada por Halle, mostra mais sobre a ansia dela de conhecer o mundo dos humanos e que casar não era o plano original dela. Ela simplesmente queria ser humana, mas conheceu Eric no meio do seu caminho e Úrsula, maldosa como só ela pode ser, usou Eric como peça chave para atrair Ariel para sua armadilha fazendo com que ela aceite sua proposta diabólica para transformá-la em humana através de suas magias malignas.

Awkwafina também foi uma escolha em cheio para Sabidona (Sabidão na versão de 1989). Ela agora tem uma música muito divertida (The Scuttlebutt). Uma adição muito bem vinda que permite uma transição cheia de energia em um ponto alto do filme. Parabéns para a atriz que executou esse número de uma forma leve e que eu não vejo outra pessoa fazendo igual. O Ator Daveed Diggs como Sebastião consegue fazer o personagem do seu jeito, mas ainda assim consegue homenagear o ator original (Samuel E. Wright) em grande estilo. Interpreta Under the Sea com muita potência junto a Halle.

Lin-Manuel Miranda trás novas letras para Alan Menken (compositor que criou as músicas originais junto ao finado e atemporal Howard Ashman). Uma adição no mínimo surreal e que não poderíamos esperar seria uma reprise com letras incrivelmente sensíveis para Ariel. Essas letras realmente parecem ter saído da mente de Howard. Lin-Manuel tem um talento estrondoso para conseguir criar essas letras e fazê-las encaixar no filme sem nenhum esforço. Ver Ariel cantar Part of Your World Reprise II faz com que você, no mínimo, lacrimeje.

Minha indicação é: Assistam legendado. A dublagem, mesmo para quem gosta de filmes dublados, pode não emocionar você. Ainda que você tenha crescido com a versão dublada. Eu cresci com a versão dublada e conheci depois de adolescente a versão original. Consegui perceber detalhes na história que não dava para interpretar na versão original devido a limitação na tradução. Vale a pena, pelo menos, tentar ver legendado.

O filme, dirigido por Rob Marshall, estreia, no Brasil, dia 25 de junho de 2023. Assista ao trailer abaixo:

Nota: 9.0

_____________

Compartilhe:

Tags:

Veja mais...